Problemas ambientais na indústria moveleira
As empresas
Bartira e Santos Andirá.
Perfil
Empresa ligada ao Grupo Casas Bahia, a Bartira abastece exclusivamente as mais de 500 lojas da rede, presente em 11 estados brasileiros e no Distrito Federal. Suas duas plantas industriais estão localizadas no ABC Paulista, nas cidades de Santo André e de São Caetano do Sul.
Fundada na década de 1960, a Santos Andirá é uma das maiores fabricantes de móveis da América Latina, mas também atua no setor de transporte. Seu parque industrial está instalado no município de Andirá (PR) e emprega 500 funcionários diretos.
O problema
As empresas adquiriram madeira da empresa Berneck, que figura no cadastro de áreas embargadas do Ibama. Seu proprietário também já constou da “lista suja” do trabalho escravo, publicada pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
O caso
Gilson Mueller Berneck, dono da Berneck, possui duas grandes fazendas em Brasnorte (MT), onde desenvolve a atividade de reflorestamento de teca – árvore muito utilizada pela indústria moveleira – e também realiza o processamento industrial da madeira. A família Berneck acumula sérios passivos ambientais. Uma de suas propriedades no município tem uma área de 1,85 mil hectares embargada pelo Ibama por desmatamento ilegal. A impressionante dimensão de mata nativa amazônica devastada – o equivalente a quase 2 mil campos de futebol – fez com que o grupo madeireiro fosse incluído na lista dos 100 maiores desmatadores da Amazônia, divulgada em 2008 pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA). O valor da multa aplicada pelo órgão ambiental à empresa foi de R$ 2,775 milhões. Além dos problemas em Brasnorte, outra propriedade ligada ao Grupo Berneck localizada no município de Juara (MT) também possui área embargada.
Além dos problemas ambientais, o dono da empresa entrou na “lista suja” do trabalho escravo em julho de 2008 devido a uma fiscalização em suas fazendas de Brasnorte que libertou 47 pessoas de situação análoga à de escravidão. Porém, em julho de 2009, obteve da Justiça o direito de sair da relação. O Ministério do Trabalho e Emprego e a Advocacia Geral da União estão recorrendo para devolver a empresa à lista.
Segundo relatos dos auditores fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), alguns dos trabalhadores que prestavam serviço à Berneck ficaram anos sem receber salário. Além disso, eram obrigados a comprar comida, ferramentas e outros mantimentos na cantina da fazenda, acumulando dívidas ilegais com o empregador. Os trabalhadores tinham sua liberdade restringida pela distância, já que a fazenda ficava a pelo menos uma centena de quilômetros do centro de Brasnorte e não havia transporte regular que os levassem à sede do município. Terminada a fiscalização, o empresário Gilson Mueller Berneck foi obrigado a pagar R$ 264 mil por rescisões de contrato e danos morais coletivos.
Relação com o consumidor paulistano
Os móveis produzidos pelas indústrias Bartira e Santos Andirá são vendidos em redes varejistas bastante populares como Casas Bahia, Colombo, Lojas Cem, Marabraz, Ponto Frio e Magazine Luiza.
O que dizem as empresas
A empresa madeireira Berneck se pronunciou por meio de nota assinada por seu presidente, Gilson Berneck. Sobre os problemas ambientais apontados pelo Ibama nas fazendas do grupo localizadas no Mato Grosso, a nota sustenta que as “infrações apresentam vários aspectos discutíveis e que atualmente são objeto de recursos administrativos e discussão junto aos órgãos ambientais competentes”. Além disso, segundo a nota, “a empresa apresentou pré-projeto de recuperação de eventuais não conformidades nas áreas ditas degradadas”.
Com relação aos problemas trabalhistas encontrados na fazenda, a nota afirma que se tratavam de funcionários “terceirizados” e que a postura da direção da empresa, na época das fiscalizações, foi a de “não criar óbice aos trabalhos desenvolvidos pelos auditores fiscais”. Segundo a empresa, as rescisões de contrato e os autos infracionais foram pagos “sem contestações administrativas ou judiciais”. A empresa também alega que não existem mais terceirizados trabalhando em suas instalações.
Já a gerência de marketing da Santos Andirá, cliente da madeireira Berneck, emitiu nota afirmando que exige de seus fornecedores documentos “que comprovem a certificação de origem dos insumos que adquirimos”. A direção da empresa sustenta ainda que passará a consultar a “lista suja” do trabalho escravo e a lista de embargos do Ibama antes de fechar qualquer negócio. Além disso, afirma que tomou a posição de “suspender imediatamente os contratos de comercialização, com a Berneck, até que a situação seja normalizada”.
Através de sua assessoria de comunicação, a Bartira afirmou que “diante dos fatos colocados pelo Repórter Brasil, até então, desconhecidos pela atual gestão da Indústria de Móveis Bartira, e seguindo a nova política de gestão da empresa, a Bartira declara que suspende imediatamente as relações comerciais com a madeireira Berneck, até que seja comprovado que foram sanadas todas as questões apresentadas e outras possíveis irregularidades. Além disso, a empresa inicia, desde já, a análise mais criteriosa de toda sua rede de fornecedores”.
A rede varejista Casas Bahia – que responde pelas lojas da marca Ponto Frio e que tem a Santos Andirá como uma de suas fornecedoras – também se pronunciou através de sua assessoria de imprensa. A resposta informa que a “a empresa Santos Andirá nunca foi um fornecedor fixo da Casas Bahia. Já há algum tempo, os poucos itens da empresa vêm sendo retirados do mix oferecido nas lojas de Casas Bahia e do Ponto Frio, sem renovação de pedidos”.
O Magazine Luiza, que também comercializa produtos fabricados pela Santos Andirá, afirma por meio de nota que entrou em contato com a empresa moveleira. Além disso, a empresa afirma que seus fornecedores e parceiros devem “adotar práticas contra a degradação do meio ambiente e do ser humano. Caso haja evidências de práticas contrárias a estas premissas, o Magazine Luiza romperá os acordos e compromissos comerciais com as empresas até que elas revejam sua posição e redirecionem suas atitudes”.
Já as empresas Colombo, Lojas Cem e Marabraz, apesar de procuradas pela equipe do Conexões Sustentáveis, não emitiram qualquer resposta.
Anexo
Clique aqui para acessar um PDF com a íntegra do posicionamento das empresas.
[…] Móveis produzidos com madeira ilegal são vendidos nas Casas Bahia, Lojas Cem, Marabraz, Ponto Frio e Magazine Luiza. http://reporterbrasil.org.br/conexoes/?p=182 […]