O desmatamento ilegal do bife
A empresa
JBS Friboi.
Perfil
Líder mundial no abate de carne bovina, o frigorífico JBS Friboi domina ao menos um quarto do mercado brasileiro. Em 2010, seu faturamento superou a casa dos R$ 40 bilhões e as exportações alcançaram R$ 10,9 bilhões. A empresa emprega 120 mil funcionários em todo o planeta. Entre seus principais acionistas, encontra-se o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a principal instituição de fomento econômico do país.
O problema
A unidade frigorífica de Redenção (PA) recebeu gado de produtor incluído na lista de embargos do Ibama por desmatar a Amazônia.
O caso
De acordo com o próprio site do JBS Friboi, que torna pública a procedência do gado abatido em suas plantas frigoríficas, a unidade de Redenção (PA) adquiriu gado da Fazenda Araguaia, localizada no município de Santa Maria das Barreiras (PA), em setembro de 2010. Essa propriedade pertence ao grande pecuarista Otacílio de Araújo Costa, que também é dono da Fazenda Guarapará, no município vizinho de Cumaru do Norte (PA). Também destinada à criação de gado bovino, o imóvel rural teve uma área equivalente a 300 campos de futebol embargada pelo Ibama em agosto de 2009, por desmatamento ilegal de floresta nativa.
É importante salientar que, de acordo com os compromissos contidos no pacto do Conexões Sustentáveis – do qual o JBS é signatário –, as empresas não devem adquirir insumos de quaisquer produtores incluídos na lista de embargos do Ibama. Esse compromisso se estende a todos os empreendimentos do fornecedor, e não apenas a uma fazenda ou área específica que constar desse cadastro.
Relação com o consumidor paulistano
O JBS Friboi abastece as principais redes de supermercados de São Paulo – como Pão de Açúcar, Walmart, Sonda e Carrefour – através de marcas de carne e laticínios bastante conhecidas, como, por exemplo, Swift, Friboi, Vigor, Leco, Pilgrim’s e Bertin.
O que dizem as empresas
A assessoria de imprensa do JBS informa que “segue rigorosamente a determinação de não comprar bois de fazendas embargadas” e “reafirma que não realizou nenhuma compra de fazendas que estejam embargadas pelo Ibama”. A empresa afirma ainda que, no momento da entrega do gado em suas unidades de produção, solicita a GTA (Guia de Trânsito Animal) que comprova a procedência do local de onde o gado partiu (da fazenda para a indústria). Segundo a assessoria do grupo, o JBS Friboi teria documentos que comprovariam que “o gado adquirido pela companhia é procedente de uma fazenda legalizada e que cumpre as boas práticas sociais e ambientais”.
O Conexões Sustentáveis São Paulo – Amazônia também indagou se o JBS Friboi dispõe de mecanismos de controle para garantir que o gado criado em uma fazenda com área embargada não chegue até suas unidades de abate, depois de passar por outras fazendas do mesmo produtor sem passivos ambientais. Essa seria uma forma bastante simples, por exemplo, de burlar a legislação. A assessoria de imprensa respondeu que “está analisando este item” e que “em breve terá uma definição de como proceder, pois impacta fortemente na questão econômica para cada planta de abate”.
Os varejistas também se pronunciaram. Em nota, o Grupo Pão de Açúcar afirma que “solicitou imediatamente esclarecimento por parte dos fornecedores envolvidos”. Além disso, a resposta da companhia diz ainda que “confirmadas as evidências, tomará medidas cabíveis, como a suspensão dos contratos de fornecimento, até que a situação esteja resolvida”.
Já o Walmart, signatário do Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo e dos pactos setoriais do Conexões Sustentáveis, declarou que, nos últimos anos, vem desenvolvendo diversas ações visando adequar os produtos que comercializa aos critérios de ambas as iniciativas. Um exemplo é a adoção, em seus contratos juntos a fornecedores, de cláusulas específicas para atender os referidos pactos. “Temos mantido discussões constantes com os fornecedores indicados no estudo para buscar as soluções necessárias. Estamos, nesse momento, retornando os questionamentos a estas empresas sobre a efetividade das ferramentas e métodos utilizados”, declara o Walmart através de nota emitida pela Vice Presidência de Assuntos Corporativos e Sustentabilidade.
Procurado, o grupo Sonda não se manifestou.
Por fim, o Carrefour informou, através de nota, que tem um rígido controle para evitar, em todas as linhas de produto que comercializa, compras de áreas que violam as legislações ambientais e trabalhistas. Em relação aos seus fornecedores listados no estudo, a empresa afirma ter entrado em contato solicitando esclarecimentos sobre os fatos relatados. “Foi informado que as compras de matéria-prima ou insumos não foram realizadas em áreas embargadas ou constantes da lista suja”, diz o Carrefour.
Mais uma vez, é importante esclarecer que, de acordo os pactos do Conexões Sustentáveis – que têm o Carrefour como signatário –, as empresas não devem adquirir insumos de qualquer empreendimento pertencente a fornecedores incluídos na lista de embargos do Ibama ou na “lista suja” do trabalho escravo, publicada pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Ou seja, o compromisso não se restringe apenas à área específica que constar de uma dessas duas listas.
Anexo
Clique aqui para acessar um PDF com a íntegra do posicionamento das empresas.
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